Queimadas dizimam espécies e afetam equilíbrio ecológico


Número de queimadas já faz de 2007 'ano crítico'
Nos 20 primeiros dias de setembro, já foram registrados em todas as regiões do Brasil mais focos do que durante todo o mês de setembro de 2006.
Ocorrências dobraram em relação ao ano passado, segundo pesquisador do Inpe, com base em dados coletados por dez satélites. João Carlos de Faria

O aumento significativo da ocorrência de queimadas em todo o território nacional, resultado da estiagem prolongada e da baixa umidade do ar, já faz de 2007 um ano crítico, com perspectivas pouco animadoras. A avaliação é do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento de dados dos satélites que detectam focos de calor sinalizando queimadas.

Em agosto, esses satélites registraram 16.592 focos de incêndio no País. O número é mais que o dobro do constatado no mesmo período do ano passado, quando foram registrados 8,2 mil focos. A situação é mais grave no Pará (5.020), Mato Grosso (4.665) e Rondônia (1.663). “Configura-se um ano atípico em relação aos anteriores. Vamos ter situações calamitosas em algumas semanas, se as coisas continuarem assim”, disse Setzer.
Ontem, a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), do Ministério da Integração Nacional, enviou alerta de baixa umidade do ar às Defesas Civis dos Estados da Bahia, do Maranhão, Piauí, Distrito Federal, de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins. Ontem e hoje, a umidade relativa mínima fica abaixo de 30%.

PRESERVAÇÃO

As queimadas em áreas de preservação ambiental aumentaram 43%, de janeiro a agosto deste ano, em relação 2006. Entre julho e agosto, o sistema de monitoramento indicou quase 6,5 mil casos em unidades de conservação federais e estaduais e reservas indígenas. “Essas são áreas onde não poderia ocorrer queimada de forma nenhuma”, alertou o pesquisador.

No geral, somente nos primeiros sete dias de setembro, foram 6.515 focos de incêndio. De quarta para quinta-feira, em 24 horas, os satélites observaram mais de 25 mil pontos de calor . Segundo Setzer, neste ano, a situação está crítica principalmente na região Centro-Oeste, onde a vegetação rasteira do cerrado facilita os incêndios, e em parte do Norte do País. Até a semana passada, o fogo havia destruído mais de 15% do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.

Ontem, equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros de São José dos Campos (SP) conseguiram acabar com um incêndio que consumiu cerca de 60 hectares do Horto Municipal.

CONSEQUÊNCIAS

Os impactos dos incêndios florestais para a fauna e a flora dos locais afetados têm preocupado pesquisadores e entidades que trabalham no combate ao fogo. Segundo o coordenador do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Elmo Monteiro, os incêndios de grandes proporções vêm dizimando algumas espécies da fauna, especialmente no cerrado.

— Alguns animais conseguem se afugentar, dependendo da dimensão da unidade e o que está no entorno da unidade. Mas animais de grande porte e alguns que estão ameaçados de extinção morrem carbonizados —, lamenta Monteiro.

Ele lembra que, em Brasília, já foram identificadas mortes de antas e tamanduás-bandeira, que, por serem animais lentos, acabam ficando ilhados e morrem queimados.

Segundo Monteiro, o cerrado é uma vegetação acostumada ao fogo, e em outras épocas havia grandes áreas que podiam suprir os locais queimados.

— Hoje, com o processo de ocupação do cerrado, o pouco que queima já é danoso —, comenta.

De acordo com ele, essas áreas conseguem ter uma recuperação natural, e as regiões compostas por campos (um dos tipos de vegetação do bioma cerrado) se recuperam mais rápido, em cerca de dois meses. Mas as árvores e matas demoram décadas para se recuperar. Monteiro cita o exemplo de até árvores que guardam até hoje vestígios de uma queimada no Parque Nacional de Brasília, que consumiu 70% do parque em 1994.

O coordenador da Embrapa Cerrados, Roberto Alves, destaca os prejuízos das queimadas para o equilíbrio ecológico.

— Toda vez que se queima um local, afeta-se a biodiversidade desse local, que envolve todas as plantas, os animais, os microorganismos —, destaca.

Alves explica que o fogo pode afetar a cadeia alimentar de um local.

— Por exemplo, um animal que se alimentava de uma planta já não vai ter mais aquela planta para se alimentar, ou um animal que é predador e se alimenta de outro também não vai ter essa facilidade de encontrar o seu alimento —, disse.

Fontes:
O Estado de São Paulo
Correio do Brasil

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